terça-feira, 12 de março de 2013

A culpa é (sempre) do outro



Estupefacção é capaz de ser a palavra mais adequada para definir o meu estado de espírito após a leitura da entrevista que o Presidente da Associação Comercial e Industrial de Guimarães deu ao Jornal de Notícias recentemente, imputando a responsabilidade da "crise" atual do comércio tradicional vimaranense à Câmara Municipal de Guimarães.
E o despautério vai ao cúmulo de dividir essa responsabilidade com a "caça à multa" e o exagero de policiamento que, nas suas palavras, tem caracterizado a atuação da empresa municipal Vitrus na fiscalização dos parcómetros na nossa cidade.
Como é evidente, a resposta do Presidente da Câmara não tardou e algumas coisas já foram colocadas no seu devido lugar. Mas quem, como eu, tem responsabilidades políticas em alguns dos setores que tocam a "sanha" acusatória do Presidente da ACIG, não pode ficar calado perante o que leu, sob prejuízo de ficar a sensação que, calando, consente.
Quanto ao estacionamento e parcómetros, se o Presidente da ACIG andasse na rua e falasse com quem precisa de aparcar o seu carro para aceder aos estabelecimentos comerciais, percebia imediatamente que a fiscalização é a melhor defesa do comércio tradicional; porque esta não tem como pressuposto a multa, mas antes a garantia de rotatividade do aparcamento, permitindo que, cumprindo a sua função - estacionamento de duração limitada - mais gente possa utilizar esses lugares por pequenos períodos de tempo, o necessário para fazer as suas compras ou utilizar os serviços públicos, e dando o seu lugar a outros.
Como é evidente, quem não percebe isto, prevaricando ou abusando, tem de ser multado, sendo que a multa não foi uma invenção desta Câmara, mas sim de alguém que há muitos anos entendeu que esta seria a melhor forma de fazer entender a certas pessoas que o comportamento desviante das regras estabelecidas determina uma sanção, deteminante (na maior parte dos casos) de uma atuação futura adequada.
E fruto desta ação fiscalizadora eficiente, hoje como nunca existem lugares para se aparcar no centro da cidade, onde se localiza a a maior parte do comércio tradicional.
Acabou a bagunça? Acabou, sim senhor.
Acabou o estacionamento de donos e funcionários de lojas durante o dia todo? Acabou, sim senhor.
Alegar ainda que existe policiamento excessivo é argumento popularucho, pois saberá o Presidente da ACIG que a Vitrus tem apenas 3 fiscais de manhã e outros 3 de tarde para mais de 1.300 lugares de parcómetros na nossa cidade, logo, que cada um, num turno de seis horas, tem cerca de 450 lugares para fiscalizar?...
O problema do comércio tradicional em Guimarães não é o estacionamento (ou a falta dele); o problema não é o parque subterrâneo no Toural (ou a falta dele); o problema não são as iluminações de Natal (ou falta delas).
O problema é que as pessoas vivem tempos de penúria e de exiguidade de recursos, com vencimentos que cada vez menos chegam até ao final do mês, com contas e impostos para pagar como nunca tiveram e que, pela primeira vez há muitos anos, têm de refrear os seus impulsos consumistas temerosos dos sacrifícios que ainda se anunciam.
E, por isso, há menos gente nas lojas, há menos carros nas ruas, há menos gente a passar férias, há menos gente a viajar. Um sinal do tempo que vivemos, que todos já se aperceberam, mas que o Presidente da ACIG entende direcionar para a Câmara Municipal. Embora muitos já tenham entendido porquê!...
E então que diria o Presidente da ACIG se, por exclusiva responsabilidade da Câmara, não se tivesse requalificado todo o espaço público, construído novos equipamentos culturais e desportivos, promovido a Capital Europeia da Cultura e a Cidade Europeia do Desporto, investido na promoção de Guimarães como um dos melhores e mais recomendados destinos turísticos do Velho Continente?
Se com tudo isto, para o qual a ACIG nada contribuiu, se queixa o seu Presidente, que dirão os outros Presidentes dos comerciantes por esse país fora?... Que eu tenha lido ultimamente, contra as autarquias nada; contra a carestia de vida, tudo.
Triste sina a nossa de ter um Presidente de uma associação tão importante que, em vez de definir estratégias para combater a crise e ajudar quem paga as quotas para ser (bem) representado, arremessa as culpas para outros, limpando as mãos de um assunto que só a ele lhe diz respeito.
É nas alturas de dificuldade e de desesperança que se afirmam os líderes. É nesta altura que se exigem ideias, estratégias, imaginação e ousadia para combater o fatalismo que a crise generalizou. É nesta altura que a ACIG verdadeiramente tem de mostrar o que vale perante os seus associados.
Pelos vistos, foi fácil e agradável distribuir sorrisos, gentilezas e elogios na abastança da CEC2012 (onde ninguém falou de parcómetros, policiamento excessivo e sei lá mais o quê!); agora que os tempos são outros, que haja coragem e inteligência para apontar (novos) caminhos e soluções.
A Câmara fez (e faz) o que lhe compete. Se o Presidente da ACIG fizer o mesmo, os seus associados agradecem.

Sem comentários:

Enviar um comentário