quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O apelo à amnésia



"If any city can be described as adorable, than it is Guimarães"

Assim começa mais uma excelente reportagem sobre Guimarães, desta vez assinada por Tim Pozzi, jornalista do The Telegraph, publicada na terça-feira passada, naquele que é o jornal britânico com maior circulação diária, muito próximo do milhão de leitores.
Bem sei que já cansa falar do assunto, tantas (e tão boas) têm sido as notícias e reportagens sobre a nossa terra nos últimos meses, descobrindo o mundo que, neste cantinho periférico da Europa, existe uma cidade exemplarmente recuperada, com uma dinâmica cultural entusiasmante e fora do comum,  feita de gente hospitaleira e profundamente envolvida, que conseguiu protagonizar a melhor Capital Europeia da Cultura no nosso país e que, este ano, quer fazer o mesmo com o desporto, sendo a primeira Cidade Europeia do Desporto em Portugal.
Alimenta o espirito ouvir, ver e ler o que outros dizem de nós.
Não só a gente comum que por cá passa anónima e replica nos seus países de origem a beleza do destino, recomendando-o vivamente, como jornalistas e repórteres, dos quatro cantos do mundo, atraídos pelo fascínio de uma pequena cidade à escala europeia que emerge desta trágico-comédia em que se tem transformado o nosso país, por força de uma governação que teima em indicar o abismo como a única saída para a crise.
A construção deste "novo" território, que atrai e fascina os forasteiros, e que honra e envaidece os locais (a maior parte deles, para ser mais objetivo), tem protagonistas e obreiros, que convem nomear numa altura em que alguns tentam passar a mensagem de que o que está para trás (já) não interessa para nada.
Ler num jornal local que o deputado social-democrata Emídio Guerreiro entende que "o futuro (não) é memória" ou que o candidato da Coligação da direita à Câmara Municipal de Guimarães apele a que se esqueçam do que foi (bem) feito e nos concentremos apenas naquilo que há-de vir, provoca estranheza e perplexidade.
Não há projeto de futuro que não se ancore numa realidade presente e numa memória passada. Porque essa memória passada, que permitiu a realidade presente, é sempre indiciadora do futuro que nos espera.
Estou perfeitamente convicto que um vimaranense, quando for chamado às urnas lá para o início de Outubro, terá presente que a sua opção é entre um partido que, nas duas últimas décadas, definiu e cumpriu uma estratégia de afirmação do nosso concelho, sucedida e reconhecida, e que se manterá fiel a ela, prosseguindo-a e fortalecendo-a; e uma coligação que nesse mesmo período raras vezes partilhou dessa visão, não raras vezes a condenou e censurou, e que agora diz que o passado não interessa para nada porque eles são donos e senhores de uma visão de futuro que mais ninguém tem.
Triste presunção esta.

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